Em Iracemápolis o nome José Zanardo, seu Zé, ou professor Zanardo sempre foi associado a Educação. Com seu jeito peculiar de ensinar Zanardo, lecionou português para milhares de alunos em Iracemápolis. Era didático e prático. Quando necessário enérgico e muito respeitado pelos alunos. Além de professor, Zanardo também foi, diretor de escola, inspetor de alunos, coordenador de Educação e já escreveu ao menos dois livros que são referência na história de Iracemápolis. No entanto, após 30 anos lecionando Zanardo decidiu pendurar as chuteiras como professor e deu uma entrevista para Tribuna de Iracemápolis onde fala um pouco sobre educação e sua carreira. Veja abaixo os principais trechos desta entrevista

 

Tribuna de Iracemápolis: Vale a pena ser professor no Brasil ?

José Zanardo: Eu respondo por mim: ninguém me obrigou a ser professor. Foi uma escolha minha. Por isso, nunca reclamei da minha profissão. Tive mais de 30 anos para desistir e isso nunca me passou pela cabeça. Devemos sim lutar pelos nossos ideais como todo profissional.

 

TI: Como era a educação há 30 anos quando começou sua carreira e agora ? O que de fato mudou nesse período ?

Zanardo: Há 30 e tantos anos era bem diferente. O Professor ensinava e os alunos aprendiam por que viam valores na escola. Do contrário, eram reprovados e não faziam mais que 2 anos na mesma série. Nos anos 90 o foco passou a ser os alunos, surgiu a Progressão Continuada (um modelo americanizado de ensino adaptado para um país de Terceiro Mundo, claro que não deu certo. Alunos de Primeiro Mundo vão à escola para aprender, pois há concorrência lá fora. Já, no Brasil, com o “Programa Todo Mundo na Escola”, 98% das crianças realmente estão nas escolas. Não há valorização do Professor, a educação deixou sim de ser conteudística, a promoção na maioria das séries é automática, o aluno vai à escola para fazer provas, trabalhos, a média caiu de 7 para 5. Houve uma minimização em tudo, onde quem mais perdeu foram os bons alunos, porque para aqueles que fazem da escola mera passagem, nada acrescentou.

 

TI: Por que hoje se fala tanto que não há respeito entre alunos e o professor? Quem seria o responsável por esse abismo que existe hoje nessa relação ?

Zanardo: A indisciplina assola as nossas escolas. De repente, passou-se a ideia de que a escola tudo pode resolver. Ledo engano! Ela não tem essa força nem essa missão. Principalmente, assuntos relacionados aos laços de família, educação de base. Professor tem coração de pai, mas não é o pai. Há uma diferença muito grande em ensinar e educar. Eu fui educado pelos meus pais, semianalfabetos. A educação não está nas letras, está dentro de casa, nós princípios de cada pai e cada mãe.

 

TI: Durante seus 30 anos de carreira qual foi o episódio que mais marcou na sua vida ?

Zanardo: Foram muitos. Eu vivi cada dia. Fui muito feliz como professor. Nunca fiz o “pacote pronto do governo usurpador. Procurei fazer a diferença sendo eu mesmo. Aceitei este desafio comigo mesmo. Nunca adotei um único livro, principalmente aquele produzido no Chile (olha o absurdo da Pátria Educadora dos ordinários).O conteúdo está na sua mente; você tem que saber dividir isso com seus alunos. E só! Quando isso não dá, “mastiga-se” da melhor forma. Mas nunca deixar em branco.

 

TI: Qual recado você daria hoje para quem está pensando em seguir a carreira de professor ?

Zanardo: A escolha de uma profissão é um passo muito importante em nossas vidas.  Eu acredito que para ser professor vai muito além de saber sua matéria; tem que ter aptidão, gostar da Arte de ensinar, gostar de relacionar-se com pessoas, ser autoconfiante, Acreditar.

Ser um depósito de conhecimento e não saber passar esse conhecimento. Você tem que ter a sensibilidade de querer transformar, porque ninguém é um depósito de informações. Antes de tudo isso, somos seres que erram e muito. Mas é preciso aceitar o erro como um desafio.

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